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Ferdinand Alquié ― Philosophie du Surréalisme

Flammarion, Editeur / 26, rue Racine, Paris (VIe). (1955). In-8º de 234, [4] págs. Br.

Primeira edição do livro, partido nos capítulos «Le Projet Surréaliste», «La Révolte et la Révolution», «L’Attente et l’Interpretation des Signes» e «L’Imagination».

O exemplar pertenceu a um conhecido escritor português, nada surrealista, de quem tem manuscrita a assinatura sobre a folha de guarda.
 
25€

Vieira da Silva / Arpad Szenes

Vieira da Silva (1908-1992) / Arpad Szenes (1897-1985) // «Pinturas - Desenhos - Serigrafias»  

Galeria Alvarez, arte contemporânea. Porto. (2004). In-4º gr. de [48] págs. Enc.
 
Bom catálogo da exposição comemorativa do meio século da galeria, encadernado, impresso sobre papel couché, com tiragem limitada a 300 exemplares. O texto de apresentação («Evocação de Vieira da Silva e Arpad Szenes») é de Jaime Isidoro, que fôra o fundador da Alvarez, seguindo-se-lhe, em repescagem, um outro de Agustina Bessa-Luís, originalmente publicado em 1972.

Exemplar por estrear.
 
15€

Retratos de Vieira por Arpad Szenes

Centro de Arte Moderna – Fundação Calouste Gulbenkian. 1985. In-4º gr. de [30] págs. Br.

O pequeno catálogo inclui textos introdutórios de Sommer Ribeiro, Guy Weelen e Agustina Bessa Luís, uma tábua biográfica de Arpad e duas fotografias suas, uma delas com Maria Helena; a que se seguem a reprodução de alguns dos trabalhos seleccionados (da mão, que se diria mágica, do húngaro) e a ficha técnica de todos. Tiragem de 1500 exemplares, estando este por estrear, em óptima condição.
 
8€

Vasco Graça Moura (1942-2014)

Também a morte espera paciente
e já cresceu connosco e perde tempo,
mas só enquanto nós esbracejarmos.

A Poesia está na Rua (e no Cartaz)


Sob proposta de Sofia de Melo Breiner, que já para o 1.º de Maio de 74 escrevera o verso em composição dedicada aos militantes do P.S. (partido pelo qual integraria as listas à Assembleia Constituinte, vindo nela a ser deputada após essas primeiras eleições livres, a 25 de Abril de 1975), Maria Helena Vieira da Silva concebeu, pelo menos - quem isto assinala estava capaz de garantir já ter visto terceira versão -, dois cartazes ilustradores de «A Poesia está na Rua», saídos a público nesse primeiro aniversário e agora aproveitados para a exposição homónima que hoje, comemorando os exactos 40 anos da Revolução, vai a inaugurar na Galeria do Palácio de Cristal, no Porto. Dos dois, um, não menos genial, apresenta o típico traço que celebrou a pintora, a que certa escolástica artística chama abstracto. O outro, de belo efeito, que aqui se mostra, foi na sua figuração mais fácil e apropriado ao propósito que lhe deu azo, permanecendo por isso até aos nossos dias o propriamente icónico e em regra reproduzido. Dessa figuração terá um olhar atento, ou apenas insistente, muito a dizer.

Não sabendo se alguém o notou, nem se a pintora alguma vez o chegou a referir, parece indiscutível ser o primeiro rosto - fileira da frente, à esquerda - o de Pascoaes (que Maria Helena dizia apreciar): é, sem tirar nem pôr, o desenho de um dos seus, assumidamente toscos, auto-retratos. A custo se discutirá que à direita na segunda linha estejam os de Pessoa e Eça. E, em subida progressiva, quase se juraria ainda reparar nos de Régio, Cesariny, Aquilino e Ruben A. (primo da escritora), para não jurar que o (ainda mais) taciturno ao lado de Pascoaes seja o de Camilo, e que a mulher à porta do prédio fosse a própria Sophia, e a mais ao alto a própria Maria Helena - hipóteses, mesmo assim, nada de descurar. Escusado reforçar o ponto com alguns casos já de dúvida, entre gente nacional e estrangeira, sobretudo francesa (Proust e Char, por exemplo). O que temos como certo chega para perceber que o mote, A Poesia está na Rua, foi levado à letra e de maneira radical: não era só a poesia, era a palavra em sentido amplo. Dirão os neo-cépticos / neo-austeros / neo-liberais (paremos por aqui, para o novo parar de estragar o velho...) que a simples ideia disso não passa de literatura.

Tomás da Fonseca ― As Congregações e o Ensino

Lumen: Empresa Internacional Editora, 1924. In-8º de [8], 84, [4] págs. Br.
 
Primeira edição do célebre livro deste depois reincidente autor de Fátima, violento ataque de um ex-seminarista à Igreja e às congregações católicas (em particular, as de inspiração jesuítica, que pretendia extirpar de todo – considerando que a República ainda em relação a elas havia sido branda…), com dedicatória impressa a Teófilo Braga. Reproduz a longa exposição ao Senado e, a finalizar, inclui também a sátira «Deus contra Deus».
 
Exemplar por estrear, conservando os cadernos por abrir.
 
18€

Eça de Queirós ― A Cidade e as Serras

A Cidade e as Serras / quinta edição

Porto – 1917 / Livraria Chardron, de Lello & Irmão, editores / (Rua das Carmelitas, 144). In-8º de 385, [3] págs. Enc.

Vão escasseando os exemplares desta edição, sendo este um dos da série encadernada pelo editor em percalina com gravações a ouro (lombada e pasta frontal) e a seco desenhando ornamentos em relevo: a efígie do romancista à frente e o emblema da Lello atrás destacando-se. Série que, nesse modelo habitual, tem aqui uma apresentação preliminar de Eça, ilustrada por um retrato, que por regra não aparece.
 
15€

Eça de Queirós ― O Conde d'Abranhos

O Conde d’Abranhos: notas biographicas por Z. Zagallo e A Catastrophe

Porto: Livraria Chardron, de Lello & Irmão, L.da, editores  1925. In-8º de XXXI, 290 págs. Enc. 


Primeira edição, com a reprodução hors-texte de um retrato de Eça por António Carneiro e uma introdução intitulada “Dous Manuscriptos a Lapis”, assinada por José Maria d’Eça de Queiroz, filho do escritor. Os “Dous Manuscriptos” são os dois títulos aqui reunidos em publicação póstuma, sabendo-se ter sido «O Conde d’Abranhos» burilado e retocado, para este efeito, por José Maria, pretendendo atenuar “o seu excesso critico, o seu exagero caricatural” e torná-lo, apesar de tudo, mais brando. Acompanha a introdução o fac-simile de uma carta enviada por Eça a Ernesto Chardron com a apresentação e o resumo do livro.
 
Exemplar da mesma série especial a que atrás se aludiu, conservado em bom estado e tendo como único defeito minimamente substancial uma assinatura de anterior propriedade sobre o rosto, exibida na fotografia da direita.
 
45€

Páscoa e escritores «pascoais»

De modos mais ou menos voluntário e crente, devem nome à Páscoa (palavra derivada da hebraica Pessach, passagem: se do Mar Vermelho, êxodo, ou num sentido ainda ultra-metafísico, anterior, é ponto discutido) escritores em número assinalável. Desde logo, por cá, um tão heterodoxo e pouco devoto Teixeira de Pascoaes, que foi buscar pseudónimo à casa paterna onde passara e continuaria a passar a maior parte dos dias: o solar de Pascoaes, em São João de Gatão, Amarante. Mas a principal via é também nisto naturalmente a francesa, profusa em baptizados com o nome Pascal, próprio ou comum. Ainda há poucos dias se mencionava aqui Pascal Quignard, esse grande escritor contemporâneo desta nossa época de que bastante desdenha. Sendo Blaise Pascal - ou Pascal, assim sem mais - o senhor de fama dominante até agora, por entre matemáticas, filosofias e teologias.

[William Blake]
Há, de resto, todo um conjunto dos seus Pensamentos dedicado pelo  auvernês  à  angústia (a consagrada agonia  pode ser  ambígua, ninguém sabe) premonitória de Cristo, agregados sob a menção «O Mistério de Jesus». A páginas tantas, lê-se uma máxima feliz, que por isso foi ganhando entretanto o favor da glória: "Jesus estará na Agonia até ao fim do mundo. É preciso não dormir durante esse tempo" (citado de cor).
Fica  evidente a alusão a essa agonia antecipada no  Monte das Oliveiras, anti-Éden frequentado pelo Cristo em consecutivas noites anteriores (di-no-lo Lucas, 21) e na noite/madrugada de quinta para sexta-feira santa. Dos mais inquietantes episódios narrados ou sugeridos no Novo Testamento, cuja estranheza terá sobrenadado narradores e narração (excepção notável: a de João, único dos quatro então presente, referem-no os outros três, e que pura e simplesmente se abstém, chegado aqui, de continuar a narrar), afirmam Mateus, Marcos e Lucas que o Mestre, ao início da madrugada, pedira a Pedro, Tiago e João que velassem, atentos, e não adormecessem, enquanto se afastava "a distância de uma pedrada" para rezar, queixando-se por vez única no texto bíblico - salvo erro, já o apontava o autor - de tristeza, "uma tristeza de morte", ele que foi dela, mas viva, a personificação neste mundo. Estaria Jesus só, e os discípulos, aqui de todo irrelevantes (tal o capítulo seguinte demonstra), seriam «mera» projecção como tudo o resto, humana ilusão de companhia, vago consolo futuro do novo credo vitorioso? Estaria de facto acompanhado e o pedido, simbólico, aconselhava apenas vigília genérica contra o Mal, que há-de durar enquanto Tempo houver (interpretação de Pascal, comummente aceite; e também aqui viria à colação Quignard, que desenvolve algures a ideia de o Tempo ter começado com a consciência da predação: a projecção da morte na presa)? Escusado elaborar hipóteses. Fosse ele Filho do Homem ou de Deus ou ambas, parece ultrapassar o nosso entendimento, mais a mais tão diferido, e não muito ajudado por uma quanta, típica e talvez forçosa confusão evangélica, de resto pobre nas pistas que deixa (o dogma da revelação divina das escrituras será, até para os fiéis, posto que as leiam, difícil, muito difícil de acreditar). Invejável a fé, que não aspira a entender ou se despista.

José Cardoso Pires - O Delfim

O Delfim (romance)

Moraes editores. (1968). In-8º de 362, [8] págs. Enc.

Primeira edição do livro, título princeps da bibliografia do autor, dedicado a Salgado Zenha e logo começado a reeditar nesse mesmo ano; revestido de encadernação editorial em tela com sobrecapa ilustrada de papel, que o exemplar conserva (ainda que com algumas pequenas marcas).
 
35€

O Livro na Arte (VI)

Não é de crer, se não há indicação do pintor em contrário, que Velázquez pretendesse algo mais do que isto: a aparente* desproporção de formas entre homem e livro, cujo efeito grotesco nos parecerá hoje  (mais de um século de modernismo e de figuração «deformadora», tendo esta até por cá  exemplo conhecido, Paula Rego)  relativamente banal, mas que não seria, à época, nada despiciendo.
 
Um habitual leitor, porém, talvez prefira achar que sim e descortine logo a sugestão de pequenez do ser que lê face à leitura em que o ego parece adormecer. Ou, já agora, a ideia da própria leitura enquanto embalo, tão cara a um escritor como Quignard. Paradoxo: a leitura, linguagem, ecoa naquele que lê apelo semelhante ao da vaga música que de longe, de fora, chega ao feto intra-uterino, infante (infans: o que não tem fala, i.e. linguagem) em formação. É dizer, aquele que lê, linguagem, responde sobretudo, notando-o ou não, ao fundo indistinto em que ela se forma. (Também ela, assim tudo, fantasma). Paradoxo eventual: aquele que escreve é em simultâneo o que embala e o que é embalado.
 
* [Don Diego de Acedo, el primo, era um anão. E o volume que segura, um volumoso in-folio. O quadro, óleo de finais de 1630, integra o acervo do Prado] 

Rome: le Guide Complete

Rome: le Guide Complete pour la Visite de la Ville et de ses Environs / Notice Historique et Artistique par Eugenio Pucci / Traduit par Sylvaine Grünberg

Bonechi - Edizioni «Il Turismo» - Firenze. [S/d]. In-8º de 192 págs. Br.

Belo guia dado a lume na justamente conceituada colecção «Mercurio», de impressão integral sobre papel couché em useira profusão ilustradora: reproduzindo-se pelos vários itinerários propostos centenas de gravuras antigas e fotogravuras variadas que contemplam quase em exclusivo peças artísticas e monumentos e complexos arquitectónicos, seleccionados com critério. O volume, decerto um regalo para qualquer apreciador da Cidade Eterna, apresenta ainda dela, em grande folha desdobrável, uma «nuova pianta di roma con rete autofilotranviaria», mapa composto pela Geographica florentina que sobremaneira o valoriza; e estando o exemplar, aliás em boa condição, valorizado já de si pelo simples facto de o conservar.
Terá esta sido a edição destinada a França (e não apenas, é de crer, aos turistas franceses em Itália).

10€

A Literatura no Desemprego

é mais do que uma moda: quem apostar que o vencedor de qualquer chorudo prémio literário luso será apresentado como «desempregado» deve ter, no mínimo, 50% de probabilidades de acertar. Este sinal dos nossos tristonhos tempos mereceria talvez só um conformado encolher de ombros não fôra o irritante tom latente, entre a condescendência e o paternalismo, com que os patronos (palavra da mesma família de patrões) parecem louvar a coisa e lavar o que de consciência possa restar como veste de capital. No meio de todos os outros de um geral empobrecimento da população que se quer lento e insinuante (não anda a dormir, quem o promove), será este só mais um sinal, mas bem elucidativo do anunciado regresso ao tempo da caridade e da esmola cujo cheiro, não especialmente agradável, vai começando a pairar pelos ares.
(O que menos se entende é o aparente pouco incómodo com que muitos dos ditos vencedores se prestam ao papel. Ainda que haja nos concursos alguma cláusula que obrigue à indicação da profissão - informação de relevância literária quase tão funda quanto a de saber se a pessoa prefere peixe ou bife, praia ou campo, despir-se ou vestir-se -, não haverá decerto a proibição de dar resposta torta a quem no assunto insista.)
 
De Julien Gracq [1910-2007], escritor francês de fugaz ligação durante a juventude ao círculo surrealista, a que nunca se vinculou e de que nunca se desvinculou, ficou sobretudo famoso fora de França o breve ensaio A Literatura no Estômago, murro no estômago, precisamente, à instituição, ao sentido e à legitimidade dos prémios literários. (E às «carreiras» literárias, e aos cortejos, pompas e feiras de vaidades, longo etc.). Falava o do Loire, a páginas tantas, nos escritores recém-chegados com o "ar de sair de uma estufa", que "querem estar à altura do que deles se espera". "A «saída» dum novo escritor oferece-nos frequentemente o espectáculo penoso duma pileca esgalgada tentando lugubremente levantar a garupa no meio dum estralejar teatral de chicotes de circo - nada a fazer; uma volta à pista e basta, fareja o estábulo imediatamente e logo corre para a manjedoura". Palavras não muito mansas, mas talvez ainda mais actuais sessenta e tal anos depois.

Uma das várias perversões intrínsecas e inevitáveis dos prémios literários é o reforço dessa velha falácia: a de que a literatura, como tudo no mundo, se compra e se vende, e o escritor, se não quiser ser «maldito», será mais ou menos domável pelo «meio». Estando desempregado, torna-se evidentemente mais fácil domá-lo. Eis o ponto.

Armando Coelho & Agostinho Santos ― e os meus mitos

vila nova de gaia 1988. (Rocha/Artes Gráficas). In-8º gr. quadrado de [48] págs. Br.    

Edição do(s) autor(es), que não deverá sequer ter entrado no mercado, constante de apenas 500 exemplares; e de previsível valorização futura, maxime pelas ilustrações de Agostinho Santos que acompanham esta incursão literária, versos em modo humorado, do arqueólogo.

O exemplar tem aposta – no caso, não o valoriza especialmente, porque a deverão ter muitos outros – uma dedicatória de oferta manuscrita pelo próprio Armando Coelho.

15€