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Raul Brandão - Portugal Pequenino

Lisboa, 1930. (Composto na Tipografia da «Seara Nova»/Impresso na «Gráfica, L.ª» –   Rua da Assunção, 18 a 24). In-8º de 258, [6] págs. Br.

Tomando como mote a reedição em fac-simile que o Público hoje faz sair, aqui se apresenta a edição dos autores (qualquer leitor  efémero de Raul Brandão reconhecerá pelo estilo o autor primário, mesmo se com algumas demãos de sua mulher, Maria Angelina, que lhe entremeou talvez algum inédito humor e o registo infantil; algo a mais neste caso d'“aquela porção que em tudo o que era dêle lhe cabia” falada por Nemésio à senhora a outro propósito) primitiva do livro, último original publicado em vida do escritor, apreciada também, afora o propriamente literário e principal, pelas ilustrações que o enriqueceram: desenhos a tinta de Carlos Carneiro (ao longo do volume, nas folhas mesmas de texto) e Alberto de Sousa (o da capa) e duas aguarelas, reproduzidas nas suas cores sobre folhas destacadas, ainda de Carneiro (vista do rio e da ponte de D. Luís, da Sé, do Barredo e dos Guindais portuenses a partir da margem de Gaia, lado nascente) e de José Tagarro (vista lisboeta do que parece outrossim a Sé da cidade, pertíssimo dela tendo o casal morado, na rua da Madalena, em casa várias vezes referida na correspondência com Pascoaes e noutros contextos), colaborador frequente da Seara Nova que, de vida fugaz, viria a morrer no ano seguinte (Brandão logo nesse, por Dezembro; a edição imprimira-se em Fevereiro). São os capítulos – ou, em rigor, quadros autónomos de personagens comuns - «Março», «A bruxa das Portelas», «As andorinhas», «O Marão», «Duas gotas de água», «O mar», «O reino encantado», «Do Algarve ao Ribatejo», «O Ribatejo», «Os pardais de Lisboa», «A Serra – Coimbra», «Memórias dum grilo» e «Uma estrêla no céu».

Deste livro, dir-se-ia não haver razão significativa para o relativo esquecimento a que sempre foi votado, devendo até, com Os Pescadores (expoente mor) e As Ilhas Desconhecidas, formar uma plausível trilogia da melhor composição mais solar que Brandão conseguiu (demasiado taciturno, sempre a desvalorizava em injustificado rigor). Será, de resto, erro tê-lo por «literatura infantil», ideia que não serviu senão de pretexto: é o mais rematado adulto quem facilmente sucumbirá a esse tão peculiar tom  - enfumado e enfeitiçador, hipnótico, ele mesmo quase sonâmbulo - que termina, por exemplo, o trecho sobre o Porto  final de «Duas gotas de água», e que  pairara já por um desses encantadores prefácios e passagens esparsas dos vários volumes de Memórias, descrevendo a Foz natal. Do Porto e da Foz, como aliás de muita coisa, nunca mais ninguém, antes ou depois, assim escreveu neste país.   

Exemplar em condição ainda simpática, mas ligeiramente desvalorizado por alguns defeitos: vincos e ínfimos rasgões na capa, pequena assinatura de propriedade na folha inicial de guarda e vestígios (mesmo se com aparecimento irregular) de acidez pelo volume fora.

35€