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(está tudo nos livros ?)

Tomando por pretexto a morte de Mandela, não será descabido repescar esta instantânea de Will Counts, tirada do outro lado do Atlântico e frequente em vários álbuns antológicos da fotografia do século XX. Faz-se notar, desde logo, pela oposição das duas personagens centrais, Elizabeth Eckford (estudante negra tida como pioneira da luta contra a discriminação racial praticada pelo ensino norte-americano, na imagem a chegar ao liceu de Little Rock, onde debalde pretenderia entrar), em tão serena quão magoada beatitude, ar quase de Pietá, e a criatura que atrás vocifera de raivosa histeria. A uma segunda vista, porém, atenta-se na moça loura que com as duas fecha um triângulo narrativo na composição assistindo, divertidíssima, à cena, tendo na cara o que parece um certo riso apalermado ainda hoje típico daquelas geografias e o regaço a atafulhar de livros. Chegamos ao ponto: como escrevia (cito de cor) Lichtenberg algures entre os seus aforismos a propósito semelhante: pode um macaco contemplar-se o tempo que entenda ao espelho, que nunca este lhe devolverá em reflexo um apóstolo. É dizer: por muito que leia, nunca o estúpido devirá sábio. Entre tal sentença e esta imagem, das que podem valer mil palavras, nada fácil discernir qual mais arrasadora do fundamento de qualquer «plano nacional de leitura».